E se do sonho se erguer um tecto
E se do sonho se erguer um tecto..e das palavras se erguer um astro
E se a vida se revestir de um metálico acenar de aves
Brilhos nascerão dentro do esplendor da imaginação
Mas nenhuma voz te dirá qual o peso das cores que há em ti
Nem que séculos te restam para chegares ao sagrado corpo do mistério
E mesmo que corras pela superfície de intemporais rios
Mesmo que Deuses bramem sobre o declínio velado dos corpos
Mesmo que na inteligência do tempo a vida seja uma serena amnésia
E das trevas impávidos anjos se apartem dos silêncios
As árvores erguer-se-ão como altivos adamastores na fímbria dos mares
Gigantescas névoas eclodirão nas planícies irreais...
Ali... onde vivem escuras faces crestadas pelo frio das sombras
E calejadas mãos clamam pelo cardo dos dias...
Como rostos fechados por cortinas de águas puras
Fala...diz que dos escombros se levantam homens com feitio de lobos
Que no Natal os sinos dobram pelos adros dos homens sem Natal
E que do sítio onde cairás nascerá um olhar molhado pela brisa incontida do silêncio
Vem..diz-me que palavras ornamentam a tua sede..que terramotos embaciam o teu olhar
Não te basta o lume? Não te chega a alma? Que guerras se ocultam no íntimo das tuas gazuas?
Que água cai sobre os teus pés em flor?
Esquece o suícidio dos sóis..esquece as ruas onde o tempo é um débito extasiado
Esquece as figuras que trazes cingidas numa cintura de paisagens esquecidas
Mas não esqueças o passado inacessível dos dias em que te esqueceste de ti
Nem a lua que emerge da tua voz...
Como se fosses uma vasta paleta de rostos onde foste rosto e alma
E que agora descansa na imortalidade de seres apenas...tu!