Eco de verão
Na noite fria e transparente escrevo asfalto
Buraco...solidão...sangue deserto
Desenho mares..ruas lendárias
Animais que bebem a seiva das esquinas
Enterro a minha faca
Num lamento coberto de raízes
Amargas horas...escuros becos
Luto com enigmáticas ervas
Ecos saem da solidão das flores
Cuspo pérolas...insónias
O cais cobre-se de luzes
Deitam-se nos barcos
Afundam-se em bebedeiras de melancolia
As ostras adormecem num buraco de sal
Medos crescem nas aves
E o teu ventre esquece-se de navegar
Sobrevive apenas na inutilidade das luzes
E há um sabor...um sabor a ais
A flores...a sono pressentido
A idade sem absoluto
E há uma luz de ouro...um eco de verão
Uns dedos inchados de onde sopram marés
Barcos lendários...caravelas líquidas
Sal derramado sobre feridas sonoras
E ímpetos de pão entrelaçado com vida
Que persistem num ocaso
Que usam a trajectória florescente das flores
Para pernoitarem na minha boca salgada!