Em todas as vidas há véus
Em todas as vidas há pombas
Que olham imóveis as águas claras
Em todas as vidas há olhos brilhantes
Febris...esmagadoramente insustentáveis
Sobre todas as vidas chove luz e rochas
Como se fossem estilhaços de um rumo perdido
Ou um penoso ofegar da areia opaca
Onde silenciosos lilases despertam
Num êxtase triunfante e abafado
Em todas as vidas há véus
Duplos silêncios intransponíveis
Fechados sob um céu fresco
Todas as vidas desejam encontrar a espada
A chave que abra o espesso mistério
Que lhes abra a fresca nascente
Onde a chuva bebe o seu murmúrio
Podemos calar-nos perante o ar imóvel
Podemos respirar a embriaguês das ondas
Podemos viajar pela atmosfera azul
Inflamada por vagas esperanças
Podemos dançar como triunfadores
Ou como luzes desgraçadas
Podemos retesar o corpo
Torná-lo um mundo fechado num minuto
Mas do chão erguer-se-á sempre o fumegante dia
Erguer-se-á sempre a extenuante âncora
Que nos prende à vida
Como se alguém imprimisse fortes pancadas na nossa porta
Ou na nossa alma...