Encantamento...
Felizes dos que brutalizam as noites
E não adormecem em sombras moles
Felizes dos que procuram o assintomático destino
Vagueando sem pressa num sol de corais
Felizes os que por quase nadas se despedem dos exílios
E por amor provam a água da paixão
Felizes os que concebem em si todas as manhãs
E absorvem o mundo nos seus poros
Felizes dos que se enfeitam com grinaldas
E lançam sementes ao fulgor da melancolia
Felizes dos que se despedem do que não eram
E se iluminam com cânticos de átomos sem nome
Felizes dos que não se preocupam com os sonetos do silêncio
E bebem pela malga dos risos e dos rios
Esses descobrem um areal em cada passo
E enchem a terra com olhos perfumados
Não se preocupam com o vazio das palavras
E todos os dias despertam para a intensidade da chuva
São como corais de sangue vivo
Disfarçados sobreviventes das flores
São como escorreitos caos
Que vivem sem pretextos nem mágoas
Sobreviventes aos dias alucinados...
Mas encantados...sempre.
Felizes dos que se erguem como anjos
E de pé enfrentam o vitral dos dias!