Enleamos o medo em fios doirados e dias ternos
Florescemos no espaço e no tempo como gritos inacabados
Jazemos sob um céu perfeito... enroscados como pedras sob a nocturna lua
Somos coisas raras...latejantes...coladas aos sonhos...
Enleamos o medo em fios doirados e dias ternos
E enroscamo-nos como novelos retesados e sonolentos
Com a pele a estalar palavras breves que colamos aos lábios
Fumando as grandiosas espirais que os sonhos acumulam na pele dos dias
Fazemos tranças às moscas que poisam na vidraça.
Alisamos o pêlo da escuridão celeste com poemas sábios
Roçamo-nos em ternuras de cetim
Que a ausência áspera dos pássaros veste de negro
Tememos os vulcões e as sombras...os monges e os hirtos...
E os ritos latejantes dos dias perfeitos...
Colamos o amor na pele...
Como se fosse um sonho trespassado por canteiros de rosas inclementes
E despimos a lua com a alma retesada pela solidão
Sonolentos seguimos como estátuas sobre uma terra áspera e ausente
Porque sabemos que do mais profundo das brisas
Soprará a insondável escuridão disfarçada de hibisco florido
Mas nós queremos mais e sempre mais... sombras e ausências..livros e histórias..
E pássaros que reviram as asas sob a abóbada celeste..
Traçando círculos mornos na poalha translúcida das aguarelas
Depois...discretos...enterramo-nos nas profundas vidraças da alma
Imaginando que a dor tem asas de albatroz...
E que paira sempre como um tempo sarado...
Ou como um amor iluminado pela amanhecida e clara aurora!