Escuto o som das minhas mãos a envelhecer
Intrínseca hora desgrenhada por lábios de lírio
Pássaro vasto que voa na débil pena da verdura
Quando a noite se veste de anémona
Toco com dedos de alga na ferida da flor
Enquanto o frio beija as cortinas do tempo
Escuto o som das minhas mãos a envelhecer
E agarro o silêncio das palmeiras
Guardo-o num sopro de planta postiça
Para quando o gelo passar por mim
E as aves se abrirem em breves clareiras
Possa tocar na penugem das nuvens povoadas por brumas
E escutar a diluição dos pensamentos
Rugindo nos alicerces da caruma
Embalo a pérola assente num coração delirante
Ostra aberta ao tempo das demoras
Como mão que afaga o leite das horas
Como mão que agarra arpões incendiados na paisagem da púbis
E no fundo dos bosques
Os símbolos constipados das almas românticas
Falam de tímidas mandíbulas que devoram rústicos amores
Falam de doçuras embaladas na brancura dos lençóis
Arquejantes sonhos...exangues corpos...
Que fazer quando o coração é uma criança a devorar incêndios?
E a alma é um incógnito deslizar de pedras
Na corrente inflamada das feridas
Que fazer quando a noite cai inteira
Sobre o timbre devastado das melodias?
E os oásis são arcaicas glândulas de palavras
Que avançam pelo corpo dos desertos
Embalando infinitos..secando ao sol
Como peixes esvaziados de ternura
Olhos secos...braços fechados
Requebros de anjos assombrados
E os sonhos de ontem...e os fragmentos de hoje
E o vértice assombrado do escuro
Tudo renasce a cada segundo...
Como opíparo sal que dorme no ventre da alma.