Faz de conta
Faz de conta que eu caminho em ti
Que os meus olhos oceânicos se desdobram pela limpidez dos cometas
Que as cartilagens do meu coração se desfazem em lentos corredores
Que a polpa cíclica dos meus abraços se acoita na tua face lunar
Faz de conta que eu te vejo
Como uma paisagem cheia de portas entreabertas
E que as feridas dos meus passos são caminhos de ausência e asfalto
Como se eu nascesse em ti depois de morrer e morresse em ti depois de nascer
Faz de conta que conheces a minha profundeza de noite e âmbar
Que o meu vazio sem ti é um mar a despejar dores espiraladas
E que as casas são sítios de silêncios arquejantes
Quando juntos ingerimos as portas das estrelas
E o nosso corpo clama por mais um momento de fascínio perfumado .