Os cardos que pisaste...
Acendem-se as mãos nas pétalas suaves do vento
O luar...o mar...tudo escorre do círio do tempo
O mel...a fúria...o retrato que arde na distância de um lamento
Fechada a vida...dispersa a infância...o rio corre agora livre e ágil pelas veias
Os cardos que pisaste... as cordas em que te prendeste
Os caminhos que inventaste
Nada resta das asas com que voaste
Mas lá ao longe...timidamente surge a flauta bravia
Surge o canto e o lamento...surge a voz..do tempo
Espalha-se a noite nas pétalas da névoa
As plantas ressurgem frescas e lisas
Gotas de ti assomam à boca da manhã
São como esmeraldas...verdes...esperançosas
São sílabas gastas temerosas
São tudo o que tu és...
Se falares nos nomes das coisas que descem do tempo
Se desceres dos arpões que se enrolam nas algas
Se uma rajada de vento te arrastar para dentro da tua a rutilância
Ergue os olhos ao frio que nasce
Lança um brado ao silêncio das pedras
Sopra todo o teu mar para dentro de uma concha... e vai...
Parte como quem nasce de si
Inventa luzes como quem conhece o escuro
Desfaz as palavras que se enrolam na alma
Ergue-te como um gladíolo...ou uma espora
Pica o mundo com a tua voz de gelo e vidro
E nascerão flores em ti
E todos os mundos se acolherão em ti
E serás o dono da tua ausência
Terás a lucidez do voo das aves
Possuirás a frágil aragem das manhãs
E verás os nenúfares na beira lago...felizes...