Ferrete
Agora que a tua chama foge
Como uma noite sem coração
Agora que lavamos as carícias com vinhos alados
Como se fossem alfinetes que fixam prazeres
E que se derramam nas sombras
Não é preciso que as coisas tenham nome
Se em tudo se ateia o fogo da fantasia
Não é preciso que os desesperos
Embaciem o frémito da felicidade
Nem que os corpos perfumados
Se deitem numa cama de agulhas ferventes
Somos impalpáveis como a beira-mar
Ou como um rosto inquieto
Sonhamos...todos...
Com o dia em que a fadiga
Nos traga as penas já lavadas
Sonhamos com romances...
Em que somos heróis alumiados
Por um candeeiro que seguramos sobre o coração
Sonhamos que vivemos
E vivemos o sonho que subtraímos aos dias de tédio
Usando anéis...com caveiras encastradas
Para que nos lembrem que temos vida
Essa vida que temos que lavar no mar
Ou na melancolia...ou na mágoa
Mas que temos que marcar
Com um ferrete indelével
No coração de uma misteriosa anémona selvagem
Que nos encanta
Com a sua frescura de amante irreal...