Fragmentos de amor
O tempo acomoda-se na folhagem cinzenta
Os dias simulam ser as asas dos olhos
Os lábios percorrem os vitrais
Punhais desabrocham nas mãos do mundo
O pão fermenta nos abismos
Florescem rosas em regaços de pecado
Um dia... as palavras comerão os abutres
Os fósforos arderão nas asas das preces
Tudo será pedra..pia baptismal de poemas
Mancha de fogo subindo pelo sangue
Atrás de mim...o mar arde
Os pobres aquecem-se no rumor das dunas
Ausento-me destes segredos
As sombras tropeçam na piedade dos momentos
O cheiro a couro cru invade a longa travessia dos quartos
A incerteza é a corda por onde subimos a pulso
Até ao fim das manhãs e do sexo
Até ao fim do crescimento dos incensos
Dos pedaços dos ossos despedaçados
Do nascer...da extrema penúria da alma
Do verde nervoso das plantas
Mas peço-te
Que ao som do canto das noras profundas
Me dês os teus fragmentos de amor...