Gasto por tanto passado assente no presente
Gasto por tanto passado assente no presente
Vivo no limbo que desagrega o devaneio da realidade
Numa falsificante utopia vertiginosa de apagamento
Hóspede de mim... escolhi viver banal e singelamente
E não jorra de mim o menor anseio pelo mundo
Possuo uma cama,um fogão,uma cafeteira e uma panela
Porque tudo o resto é alucinação e frio fogo-fátuo...
Numa representação permanente de mim
Posso renegar tudo... menos o livre pensamento.
Vivo na bolha cristalina que me separa da miséria humana
Onde posso subjugar o tempo... e torná-lo utilizável
Enquanto outros me pensam enfadonho...
Cogito de mente amanhecida e planto-me de barriga para o ar
Deixando ficar o olho esquerdo de vigília ao mundo
Desenferrujo a mente passeando no meu reduzido quarto
E sobe-me uma taciturna fecundidade de ideias
Que guardo como um pecúlio num mealheiro de sementes
Expectando que cresçam...
Depois... esparjo-as como água benta colorida
Extraída da minha jazida pessoal de frases acumuladas
Recheando de magia a extensão branca das páginas
Que depois devoro com uma colher sôfrega e espantada
A seguir abro os braços abraçando o silêncio
E numa fantasia que cinge tudo o que me rodeia
Aperto num abraço o amigo dia, e...
Abro a janela...olho o rio...e,
Feliz... estreito nesses gigantes braços que tudo abarcam...
O peito e as costas da vida!