Gavetas vazias
Sabemos tão pouco dos dias
Em que quietos iludimos a ternura
Sabemos tão pouco do vento
Que nos afagava as palavras ternas
Havia a fogueira e uns lábios embaciados
Havia o sal que escorria pelo teu ombro
E eu mordiscava com um sorriso
Hoje abro os olhos e vejo luas e manhãs
Mas não encontro os nossos corpos
Se eu conseguir que a morna tarde
Se prolongue pelo universo...talvez tu voltes
Talvez me digas que já não encontras outros dedos para enlaçar
E que os papéis que o vento levanta
São despedidas de amores atrasados
Guio-me pela tua ausência
Como um rapaz que trai a sua pele
Descubro que já nada me chega
Que a minha bebedeira é um aconchego de feitiços
E que tenho os olhos cheios de gavetas
Vazias...