Grades...
Por vezes é difícil encontrar uma manhã
Em que o caule das coisas faça sentido
Algemas de fogo tecem o vaivém das luas
Dentro de mim cresce o fumo anónimo das ausências
As sombras do cais multiplicam-se na voz trágica do sol
Por fora da alma os pássaros recriam voos alquímicos
Por dentro do fumo desenham-se ramagens de antigas demoras
Tudo flui ...sem murais nem vazios...tudo está dentro de tudo
Mas o pranto dos telhados aquece a nudez das luas
Tudo acontece como se caminhasse numa outra era
Tudo arrefece na ferocidade do tempo
Os corpos...as memórias....
Os prados onde as abetardas se espraiam em voos rasantes
E até os musgos que trepam por nós como prantos
Nos falam da presença ritual do silêncio
Onde se misturam estrelas e rostos...
E onde as nossas grades servem apenas para nos destapar o sol
Que escondido brinca connosco...
Ao jogo fugidio dos dias.