Habitamos corações fechados
Habitamos corações fechados
Em covis onde falta alguma coisa
Limpamos o pó da alma
Com um espanador cheio de medos
Vemos olhares que rasgam o ar
Enquanto expulsamos os dias que não importam
E fechamo-nos em sombras e risos esperançados
Como um ritual inevitável
Dançamos... em corpos rasgados pelo frio
Uma dança plena de imensidão
Escondemos segredos...cantamos assombros
E devolvemos à alma o troco de um pagamento
Feito com sentimentos coalhados
Preenchemos a nossa sombra com trovões e poesia
Com portas fechadas e doces corpos acariciados
E contamos às pessoas que dançam à nossa volta
Histórias que caem no chão negro e poeirento
Porque reclamamos a eternidade
Como se ela fosse uma pedra indestrutível?
Arrastamos os pés pela tapeçaria
Que é o nosso nascimento
E pela penumbra do céu que é a nossa felicidade
Nada nos diviniza...nem o céu nem a terra
Nem os assobios do vento
Somos uma contaminação exagerada de nós
Um espaço preenchido por bocas e sementes
Que lançamos ao chão
Até que um dia o vasto despertar nos visite
E nos diga que somos feitos de lama
Que somos feitos de terra e ar
Frágeis cascas de ovo
Que se erguem fortes e resistentes
Perante o enorme espaço que flutua entre nós
E os sorrisos delicados das flores...