Imóvel está a noite...
Desgrenhadas flores cobrem o espaço trágico dos abraços
Altivas papoilas espreguiçam-se nos cantos rectilíneos das cigarras
Imóvel está a noite...absorta está a espera
Beijos cruzam o espaço das janelas
Há espuma de granito na terra agoniada
Cabelos brancos fecham-se em veios de areia
O homem cai...consolado pelo calor do vinho
Gratuitas pontes ligam longínquas luzes...há um luar imprevisto em cada olhar
Há uma ardósia a florir na seiva gasta das espáduas
Atravessamos o tempo como sabres amortalhados
Como urgências trágicas que pisam evasões...
E porque não dormir debaixo da nossa incoerência?
Como se fôssemos o sonho antecipado das rochas
Ou como se distribuíssemos música pela angústia das ruas
Viajamos no tempo das mãos
Cobrimos o corpo com a luz que se entorna dos castiçais
Selamos a vida com um límpido retesar de bússola
Queremos a rua..queremos os nossos estilhaços
Queremos voar nas costas dos pássaros
Enquanto acenamos aos suicídios oníricos dos eclipses
Como deuses loucos..desertos... rodando no turbilhão das areias
Exaustos como chaminés saturadas de corpos frios
Letárgicos como luas cravejadas de passeios
Somos nós? Somos invariavelmente nós?
Ou seremos a estátua que guarda o jardim das traseiras?
O jardim que pensa que as árvores são apenas seiva vazia
Como débeis casas..sem ninhos nos beirados...