Inesperada margem
Hoje esqueci-me de quem fui ontem
O que fui ontem desmoronou-se no cascalho do tempo
Hoje sou o pião que gira em torno de mim
Um pião sem tempo que caminha pela insípida madrugada
Como luz que adivinha o recomeço dos dias
Estéril oscilação de catedral no lusco-fusco do inverno
Fraca consumição de lago florido
Onde me precipito num incêndio de nenúfar
Esquecido... do bafio dissimulado das vozes
Como penumbra de água em suspensão
Ou como um rosto que se dissimula pelos recantos dos dias
Inesperada margem indiferente aos derradeiros raios de sol
Regaço de pedra cercada pelo desvario das sombras
Que vivem na procura das palavras que açoitam o suave movimento do futuro
Como fontes ancestrais brotando pelos olhos cinzentos das aves
Que comem... debaixo de um céu de fogo...
A minha escuridão..