Insarável pássaro de fogo...
A angústia endurece-me a pele ferida..pássaro feito de promessas vidradas
As serpentes atravessam a minha noite que perdeu a dimensão
E...do mais profundo de mim ergue-se um vazio esplendoroso
Língua de ave a devassar o canto eterno do meu corpo
Crina de frágil promessa que os ventos espalharam pela Ásia
Se pudesse...sulcaria as sombras e o entusiasmo da melancolia
Beberia pela tua língua o sossego das cidades
Mas...nada trago nas algibeiras onde se acolhe a faca que me marca os dias
Dos teus cabelos recordo apenas o marulhar das madrugadas...o medo das manhãs
A insónia que nos acordava...como uma língua devassa e provocante
Não tinha nome nem tristeza...bastava-nos a aflição das ilhas e dos veleiros
Bastava-nos a melodia que se espalhava pelas areias onde os gatos se acoitavam
Havia algo a pairar...um prelúdio de ansiedade...um despertar no coro das falésias
O medo amanhecia...o eco recordava-nos...que o assombro era um rio sem ambições
Mas...por muito que as palavras esfriassem..
Havia uma ferida dentro de cada recanto de nós.
Como se fosse um insarável pássaro de fogo...