Instantes...
Tudo está parado. Tudo se move nesse espaço sem horas. Tudo está morto. E tudo está vivo nessa hora onde não há morte. Onde há apenas um toque de existência. E uma incontestável leveza na imaginação. Por fora de nós. O dia. O ar. O toque gélido do frio na face. Tudo nos faz lembrar que estamos vivos. Que estamos imobilizados em luzes de vaivém. Que o nosso significado é apenas um olhar fixo. Um riso estridente. Uma sola que escorrega pela calçada. Sabemos que há sempre um lugar onde não estamos. Um lugar vazio onde não vamos. E que há sempre um vazio no lugar que ocupamos. E tudo morrerá. Os nossos erros e os nossos instantes de prazer. As nossas obsessões e o nosso olhar. A nossa idade e tudo o que tivemos de afrontar. Longe é o nosso nome. Longas as tardes onde ardemos. Nada precisa de explicação. Tudo se explica por si mesmo. Mesmo que não digamos uma palavra...as folhas cairão das árvores. Os pássaros poisarão nos beirais. A luz comerá a sombra das pedras. E nós seremos a tragédia sentada numa varanda...aberta ao inverno. Esse inverno que pincelamos com flocos de medo. Esse inverno duro. Concentrado em finas camadas de gelo....e de inquietações. Mas estamos felizes como fanáticos fantasmas. Já soubemos o que era a infância. Já absorvemos todas as ternuras. Já sentimos a dureza de uma porta fechada. E já ajustámos a nossa gregariedade. Já sabemos como poisar em silêncio sobre os dias. E também sabemos que o infinito é uma diluição de nadas. Uma inconsequência. Uma opacidade. Um desmantelado espaço. Uma oblíqua forma de nos pensarmos. Um portal com vista sobre a estridência da vida. Da vida que não vemos. Da existência que não existe. Da irreal multiplicação de um caos. Que continua a arejar... a nossa vida!