Interlúdio
Ergo-me a todas as horas e depois...caio na contemplação do nada. E tudo volta. As armadilhas da ilusão. As gramáticas desfocadas. As palavras que se colam a nós como pinturas de Dali. Loucas. Anti-naturais. Todos temos dentro de nós o cavaleiro da triste figura. Todos subimos aos planaltos de uma coisa que é outra. Tal como a verdade é um raio de luz negro. Um lepidoptero em completa metamorfose. Sempre em completa metamorfose. E é por isso que perseguimos as verdades. Que são apenas comboios descarrilados. Que brincam connosco como quem não nos quer falar. E nos dizem que a primeira luz é aquela que não vemos.
Bocejo. E nesse momento encontro a minha justificação de aqui andar. Não levem a mal mas...prefiro a chuva a um passo em falso. Prefiro a ternura de um insecto que a honestidade de uma cobardia. Prefiro uma pergunta do que uma refinada certeza. E a luz de um candeeiro a uma poça onde o tempo se afoga em lama. E no profundo instante em que da lama se ergue uma estrela. Fecho os olhos. Sento-me nas pedras salientes. E num interlúdio de profundo espanto. Bato com a porta...e desapareço dentro de mim.