Já só nos falta viver
É pesada a carga
Que faz latejar o precioso momento da vertigem
Porque é na escuridão seca
Que se contorce o pânico da espera
E é no instante impossível
Em que as vozes ecoam como gargantas latejantes
Que ignoramos todas as coisas
Que se agitam à nossa volta
Como se o mundo já não estivesse na nossa cabeça
Como se tudo se esvaí-se numa inconsciência
Num mundo interior...numa manhã
Numa manhã onde as cores brincam
O sangue aquece... e as veias rebentam
E onde só há uma nitidez
Que se precipita sobre imagens distorcidas
Porque nos atiramos como alucinados
Para dentro de impossíveis rostos
Onde a nossa realidade é abanada
Gira sobre si própria...contorce-se
Lateja em infindáveis dias caprichosos
De olhares vítreos...informes...
Até que lentamente...as respostas surgem
Como se a lareira mais insuportável...mais inconstante
Se iluminasse numa mágica simbiose com a realidade
Com essa realidade espelhada num mar agitado
Em que cantos efémeros
Nos enchem a noite aveludada
E a vida se transforma numa tela impossível de ignorar
E lá bem dentro de nós
Sabemos...
Que já só nos falta viver...