Lembrança do mar...
Quando cheiro uma flor... sei que dentro de mim renasce a vida
Dentro dela está o tempo e a fuga
Dentro dela estão os inconfessáveis olhos do adeus
Dentro dela está o apelo...de um tempo que não me pertence...
Quem esperará por nós quando os solitários choupos adormecerem
E o apelo da noite florir numa estrada perfumada?
Belas são as aves nocturnas que voam ao nosso encontro.
De riso tranquilo...desci pela maresia da noite
Sosseguei as saudades que deslizavam pelo meu peito
Como estrelas submersas num lago de cores caídas...negras...fúlgidas
Que deslizavam nos meus olhos...ao sabor de um vento pequeno.
E havia um silêncio plasmado na pele dos canaviais
Um cheiro a tempo sem palavras...brisa de luz e ruído de cidade afastada
Ergui-me como um pórtico que escuta os murmúrios da noite
Nada havia ali...a não ser o repouso da alma.
Toquei nas asas de uma borboleta
Quem me dera que fosses o peito repousado da paz
Quem me dera que deslizasses pela leveza despida da tarde
E me abrisses as portas do sono...devagar...pousada no meu peito...
Sem casa para morar!
Dentro dos meus olhos afogo as sombras e os contornos inconstantes do rio
Tudo é igual aqui...nada se atreve a mudar...
Mas hoje...apenas hoje....vi...dentro de mim...
O hiato que me separa da névoa do tempo...
Qualquer pedra que ergas não é mais que uma pedra
Qualquer voo de ave não é mais que um voo de ave
O que é diferente...é a lembrança do vento a raspar nas arestas da janela
De onde já não vejo o mar.