Lembranças
Ainda consigo lembrar-me da paixão que sentia
Quando o mar me desanuviava a cegueira
Ainda me recordo da voz que ecoava
Na rubra maresia da tarde.
Havia chamas imensas
Insaciáveis apelos ao corpo
Feridas que a luz distraída alumiava
Havia a fome de uma ânsia gretada pelo orvalho
Excessiva ânsia que tremeluzia
Por dentro da ferida que alimentava o coração
Já não sei onde estão os séculos
E o esplendoroso tempo das poeiras
Já não sei mesmo se a penumbra
É uma chama que grita por silêncio
Já só quero chegar ao ponto mais profundo de mim
Atingir aquele vórtice que a poeira dos dias alumia
E ali deixar o meu corpo perder-se
Permanecer imóvel perante o mar
E sonhar ser o olho e o voo intrépido da águia.