Lonjuras
Vamo-nos construindo a pouco e pouco como quem rebola sobre a infância. Como quem salta sobre os sobressaltos. Como quem digere o mundo. Sacudimos a poeira que cobre a nossa lucidez. E procuramos um lugar onde plantar a nossa florescência. Temos tantas ilusões. Rimos tanto. Sabemos que o nosso império não passa de uma pequena sala. De um curto corredor. Da respiração da gravidade. Do chão ergue-se um tempo estéril. Das ilusões cai um suor árido. Ocasionalmente apodrecemos sobre a nossa originalidade. Essa originalidade que é de cada um. E onde cada um não é mais que um riso ou uma telha-vã. Por onde passa o vento e o frio. O nosso cemitério são as nossas conquistas. O nosso desafio é uma ideia e uma verdade. Esgotado o tempo. Saltado o muro. Uma comédia ecoa na nossa sala de estar. Ao mesmo tempo que colocamos os óculos. Só para vermos a nossa própria vertigem. Só para ver se descobrimos a nossa origem.Mas...um raio de sol penetra na sala mostrando-nos a lonjura do nosso entusiasmo. E do nosso esgotamento...