Magnificente luz...anel de fogo...lenta insónia...
Refluxo coronário de estrela assombrada
Lua que entra pelo meu coração adentro
Entre mim e ti há uma queimadura que nos separa
há uma garganta na paisagem que rodopia
Um fôlego que se empina na frieza assimétrica do mundo
Com unhas de escrita abro um buraco a toda a largueza de mim
Cada palavra é um ferro em brasa que atravessa a minha selvática noite
Como uma estática órbita de vento
Tão próxima...tão próxima...da explosão que vai deflagrar
Na minha carne púrpura...na minha cerrada boca...no meu espelho fotostático
Na magreza do meu corpo há uma fenda onde despontam imagens de ilhas distantes
Alguém deveria dizer-me que o espaço é uma imagem circular
Alguém que abrisse a minha escuridão com a força de uma feroz golfada de loucura
Em mim rodopia essa espécie de claustro ligado aos reflexos das luzes
Parar...crescer como uma repentina faísca que absorve o ar
De repente perceber que a música e a água e os dilemas do mundo
São brilhos de um acaso magnificente
São movimentos que o cerne das mãos relembra..sempre....
E de cada vez que um clarão palpita na carne nua
As estrelas brilham com a melancolia da beleza lírica dos poemas
Olhar o espaço..conhecer a distribuição dos planetas
Passar pelos dias como uma janela esventrada
Expelir pelas guelras dos peixes o pavor das paisagens encobertas
Paralelo a mim...há um rosto de madrepérola a espreitar pela profundidade dos sóis
As estações do ano deslocam-se como paisagens em torvelinho
Corropio deslumbrante de sangue a escorrer pelos mapas do coração
Espécie de rio a jorrar pela contrariedade dos espelhos
Como uma cicatriz de verão quebrado na clareira dos rostos
Ai braço de poros tatuados com tranças de um tempo sem idade
Ai força que sufoca a vida cravada nas costas das facas
Côncavas bocas beijando a limalha das paisagens
Alucinação de águia sombria a piar em volta da aridez do mundo
Estancado o sangue... aberta a válvula da penumbra...
Olho o charco negro do meu mundo...e rejubilo...
Magnificente luz...anel de fogo...lenta insónia...
Ornamentada por todas as coisas que voam para além da minha compreensão.