Março embacia os vidros..
São quatro da tarde...e nada acontece no lugar onde os crisântemos floriram
Talvez lá mais para a noite as horas despertem sobre as folhas murchas
E o amor inicie o jogo dos abraços e das utopias
Março embacia os vidros..os olhos já sentem o local onde corre o mel
Amplos frios desconhecidos assombram a terra..
Há muito que a natureza nos fala de esperança
Tanto nos faz agora que o paraíso nos confunda com deuses
E que a brisa sopre sobre o envidraçado dos olhares
Voltamos o rosto para o sol...sabemos ser gente que se renova com o calor
Não há limites para o cantar dos pintassilgos..nem para a eternidade fria do silêncio
Sob as fachadas os ombros descaem..como jogos perdidos de saudade
E as velas enfunam como arcos de papel colorido debaixo do céu azul-frio
Na luz desenham-se leis que fazem curvar o corpo..intactas como lanternas ulcerosas
Esqueçamos o jogo e a boca que sucumbe ao direito de falar
A boca que consente que o estio a cale..como se fosse a fonte seca das palavras
Sejamos o pródigo alimento da estrada...os pés descalços da esperança
A folha de palmeira que envolve o corpo em ardores de festa
Sejamos o reflexo das coisas sem reflexo..
A distância que se percorre num país sem distâncias
O alimento das coisas que se dissolvem numa maresia dissonante
Mas esta enorme falta de sentir...
Que não encontra resposta nos limites ensolarados dos dias
É apenas o papagaio de papel..que procura a grande lonjura das águas..
Que se renovam a cada trinado de granito...