Marés sem eco
O vento afia as suas rajadas no desassossego das esquinas
Algures uma miragem descobre um abrigo feito de sonos vivos
As sereias pedem boleia na margem das ruas estagnadas
E um incomensurável aperto envenena os desejos à beira da extinção
Finges ser uma cinza enigmática
Que alimenta a felicidade em quartos esconsos
Foges para um abrigo feito de setas envenenadas
Que se parecem com rendas espumantes.
Queres a felicidade registada na tua pele
Como uma tatuagem inaudível
Ou como um vago gesto
Que se desfaz numa máscara de inquietantes proporções
São brancos os sossegos
Que se festejam nas manhãs onde as articulações gemem.
Pernoitámos num tabique à beira de uma montanha gelada
Onde segregámos o cansaço numa orgia de sangue e espelhos quebrados.
Festejámos...sim festejámos
Como notívagos vagabundos que se desfazem dos dias
Que os atiram contra uma parede feita de ossos rendilhados
Onde memórias de inquietos rostos estão plasmadas
Num esfíngico riso de caveiras trémulas
Que paralisadas por invisíveis dedos de gesso
Estremecem como trevas em espelhos
Que se separaram dos disfarces
Que partiram janelas
E que por fim se aniquilaram
Num cheiro aquático de marés sem eco.