Memória de gato
Memória de gato. Dança de três dimensões. O homem geométrico. O homem negro de pele branca. O homem branco de pele negra. A maçã que ninguém comeu. A linha irrisória do que não vive em nós...e a do que vive. Tudo é irrisório. A lembrança. A moldura. A criança. O absurdo tamanho do olhar. O incompreensível silêncio do desenho que vive dentro da imaginação. Traçado de giz. Alegoria de fome. De fome de céu e de cometas. De luz de estrela cadente. Quem roubou as cores do homem? Quem assinalou a irrisória vontade de viver dentro de uma moldura? Quem nos marcou? Quem se lembra dos calções pelo joelho e dos ténis rotos? A bola. Jogar à bola. Crescer. A bola. Esfera que dança nos confins da memória. A nossa história. A nossa definição e também a nossa indefinição. O figo roubado. Sagrado. O prato cheio de cores. Os sabores sem sabor. Esquecidos. Num quadro negro. De medo. A pele a balbuciar arrepios. A espinha encravada na carne do amor. Quantas espinhas. Quantos amores. Tudo concentrado num grande lago opaco. Aqui as primeiras letras. Ali as últimas letras. Tudo. Aqui.