Milagre na Noite de Natal (conto)
Os factos extraordinários que a seguir se narram ,aconteceram numa cidade perdida no tempo, mas a verdade é que aconteceram.
Era uma noite escura, as parcas pessoas que passavam na rua seguiam com o rosto inóspito e encerrado nas suas caixas de silêncio. Os átrios das lojas fechadas serviam de grutas onde se abrigavam os apóstolos esquecidos pela sociedade. Os néons competiam entre si, num caleidoscópio de cores, para sobressair no negrume das ruas. Foi então que, no lado mais escuro do asfalto e no lado mais profundo do silêncio da rua, se ergueu uma luz que vivia num buraco negro. Libertou-se da sua prisão na forma de uma pequena estrela brilhante. A estrela saltou o espaço do silêncio desértico da rua e começou a crescer. E tal como uma célula foi-se subdividindo, e multiplicou-se em miríades de pequenas luzes que inchavam e explodiam, como fogo de artifício, em fontes de luminosas letras. Letras que, depois, inflamadas como que por magia, se agrupavam em palavras. Que entre surpreendidas e maravilhadas, se constituíam em poemas. Nessa manhã, as pessoas acordaram estremunhadas e encantadas pela poesia. Começaram a analisar entre si esse estranho fenómeno, reuniram-se nas esquinas e nas praças, e todos afirmavam que a poesia tinha sido dada à luz pelo ventre de uma estrela que tinha florido em cores majestáticas.Os que discutiam calavam-se enternecidos. Os zangados faziam as pazes. Dizia-se poesia em todo o lado. Desejava-se paz e felicidade através de poemas. Apertavam-se versos de encontro ao peito. Um milagre tinha acontecido. Os homens daquela cidade tinham-se transformado em poesia de carne e osso.
Nota - este meu conto está publicado numa antologia de contos de Natal
A todas/os um bom Natal