Mundos
Tudo tem o seu lugar no mundo. Os fios incandescentes dos dias tecem cegueiras. Tecem pressas. Tecem fardos difíceis de carregar. Mas por entre essa luz intensa cresce um magnífico desdém pela microscópica fantasia da vida. Tudo é imponente. Todas as alternativas são viáveis. Tudo se acomoda à escala da alma. Há coisas que vemos claramente. Outras que transportamos em infindáveis viagens...neuróticas. Temos a vontade do disparate e a enfermidade do segredo. Plantamos jardins em circunspectos vasos de lixo. E o mundo é um espelho que nos foge.
Encenamos acenos de filigrana. Argumentamos com a intensidade de um abraço...apertado. Somos frágeis pedras preciosas a divertir-se com a sensatez dos loucos. E ...por vezes não nos damos ao trabalho de aguardar pela humidade de um beijo. Vemos expressões de pânico em canteiros de amores-perfeitos. Devíamos resgatar os momentos em que calcinámos os sentimentos de alguém. Cobrir a nossa lucidez com a gravilha de um silêncio brusco. E...se enlouquecermos como Nietzsche...é porque a tragédia da Vida é a finalidade do nascimento.
Pega numa tela e traça uma esguia linha de água. Depois...ignora todas as luzes. Grita com as mãos em concha. Explora as cavernosas águas. Agita as enseadas. Procura a combinação certa nas cores de um céu nublado. Até que o próprio mundo se estabeleça...dentro de ti.