Na minha memória
Na minha memória tenho o teu corpo entrançado
A tua ausência é um cheiro que guardo
Um rosto...uns lençóis...um desejo
Demoro-me no meu deserto
Esqueço a noite e corro pelo vácuo
Sonho com a minha última visão
Poeta..peregrino amarelecido pelo esquecimento
Nunca mais voltarei a cantar com a tua boca
A dizer-te que nenhum outro rosto se sobrepõe ao teu
Vejo a neve... a frouxidão dos corpos
Cordilheira de gritos...dedos e sede de pele
Sonho que sou o canto da ave
O andarilho do violino
Persigo a quimera que se derrama dos dias
Busco nas flores o êxtase do teu lugar
Mas a corrosão dos caminhos é um espaço desabitado
Uma lua fingindo ser luz
De manhã percorro a monotonia que se derrama pelas ruas
Bocados de coração chegam-me à boca
Desfaço-me em lugares esquecidos
Afrouxo o passo...
Escuto o silêncio a esvair-se por mim adentro
Cismo pertencer à imobilidade do dia
Sei que em todos os lugares há abandono
Ausento-me do sonho de te reencontrar ...
Finjo ter asas de mariposa
Coloridas como sementes de paz...voo...parto
São horas de reflorir....