Não esqueço...
E nós...que crescemos sob todas as dores
Que somos escassos perante o azul vivo do mar
Que queremos ser mais que uma inscrição na pedra
Sabemos...desde pequenos...
Que somos frágeis varas de salgueiros a acenar ao vento
Sabemos...que por entre os arbustos espreita o gosto da vida
Que o infinito dura mais que o tempo...e que os tronos caem...
Como pétalas...como deuses...
Como eufóricos traços desenhados no ar por um papagaio de papel e sombras
Erguemos a cabeça...somos gentis...assombramos as normas da respeitabilidade
Só porque não podemos ser outra coisa...ou porque não queremos ser outra coisa
Vamos por declives em direcção sabe-se lá a quê
Demoramo-nos nas praças onde os pombos revolteiam os ares
Pobres bichos...doentes como nós...esfomeados de liberdade
Não me esqueço que um dia tomei o gosto da vida...e gostei...e foi bom
Não esqueço....