Não há nada mais profundo que abrir as mãos e deixar escapar as sombras
Daqui..vejo a esquina que dobra os corpos..o desafio das luzes
Daqui...é só um pequeno passo para a imensidão das cidades
Uma breve ilha que atravessa a noite..um momento..um silêncio onde não cabemos
Daqui..vejo o ar emocionado dos pássaros atordoados pelo escuro
Vejo a vida que chega agrafada a todos os sonos..a todas as alegrias
Não há nada mais profundo que abrir as mãos e deixar escapar as sombras
Descobrir os cabelos brancos e perceber...que não arquivámos o amor
Se um dia dormires junto ao canto mais afastado da solidão
É porque fizeste a travessia da noite..e as açucenas repararam que estavas só
Se um dia deslizares pelas árvores..se fores uma fotografia pálida
Se adormeceres junto às conchas...
Provavelmente repararás no espelho onde deixaste o teu rosto
Daqui...vejo os segredos reclinados nos nós da madeira na trave dos quartos
Vejo a liberdade de sentir a dor... de ser apenas mais um anoitecer
De chegar e ficar apenas ali..só...a ver a lonjura do teu corpo
A reparar que o sol ainda te vigia...e que lá ao fundo...no rio..as aves descolam da água
Como se escutassem a tua mão..meio dobrada sobre a minha face
A segurar-me o corpo..a embalar-me o susto... a sorver o meu coração
Sei que debaixo dos teus olhos tudo pode acontecer
Que posso respirar a luz que me chega de todos os ângulos do espaço
Que vou descobrir onde estão todas as probabilidades de ser respiração..
Dentro da melancólica procura de mim..e de ti...