Não se diga
Não sei se diga
Que o homem é igual a Deus
Não sei se diga
Que o homem é um escândalo de Deus
Não se diga
Que o homem é um louco
Liberto das grilhetas da razão
E que pode caminhar
Às arrecuas do tempo
Não sei se diga
Que a alma tem perfume
E que a lama enfeita as mãos
Não sei se diga
E que a memória é carregada de ácidos suaves
E de sorrisos...e de elegâncias
E que tem os olhos fitos na avidez do passado
Celeste é o leite
Que temos que beber
Requintado é o sorriso
Que temos que sonhar
Fortificantes são as desilusões
Parecidas com a verdade.
Moribundas...moribundas
São as suaves luzes do Universo
Fios de seda
Ligam-nos ao seio materno da Vida
Existimos...fortes...ávidos...magoados
Mas também estendemos mãos
Às recepções calorosas do coração
Libertamos odores antigos
E ternura nos gestos
Mas também pintamos
Crédulos templos ao ar livre
Sim! Templos ao ar livre
Não esses templos a cheirar a mofo
Onde se escondem os deuses empoeirados
Desses não precisamos
Queremos deuses puros
Que brinquem connosco
Que riam connosco
Que sejam realmente irreais e tocáveis
Que possam ser bebidos com prazer