Não te percas
Não te percas nessas ruas
Onde o tempo estupidificou as árvores
Não te assustes com a perfeição estridente do caos
Tu és a luz a sombra e a penumbra
Tu és a mão veemente
Que luz no artifício das caras
Junto a ti corre a longa e fina alegria
E também o austero sinal de seres um mundo
Mas tu que também devoras o fogo
E és o contraponto do espaço
Que inventas a dicção poética das coisas
Que corres entre as sílabas e as praias
Ouves esse vasto temporal a luzir no escuro?
Esse temporal que incha o dorso dos navios
E que ressoa para além de todas as estátuas
Como se dedilhasse as cordas leves de uma cítara
Como se corresse descalço pelos calhaus do poente
E se equilibra num breve fio de luz
Inventando as abstrações que iludem os homens...
Sim... tu que és a sombra pequenina
Que ondeias no azulado dos versos
Não te percas....