Nem todas as sombras se vão
Gelosias de nevoeiro dissimulam as cores paradas na margem do rio
Um himalaia de paz branca...espessa... cresce na órbita do silêncio
Assombrando as cravinas que descansam nos vasos rasos de barro
Nem todas as sombras se vão
Algumas agarram-se a nós com a cola feita de imagens desbotadas
Nem todos os erros se esquecem
Alguns ficam connosco como dedos de ferro a plagiar o destino
Se eu soubesse falar de mim
Diria que uma estrela me viu de cabeça para baixo
Que os meus olhos possuem todos os centímetros que os olhos podem possuir
Que morro de frio como um Universo que não cabe em si
E que a tua presença é a solidificação de todos os meus anseios
Se eu soubesse falar de mim
Diria que os dias se multiplicam por dentro das minhas veias
Que a felicidade consome o tempo da saliva
Que na minha boca cai a chuva que me molha por dentro
E que na espera de mim há uma lonjura de mar telescópico a entoar as frases das algas
Mas...eu não sei o que digo...não sei falar de mim...