No cárcere do silêncio dispo versos...
Moro numa noite surpreendida pela ousadia de um gesto calcário
Dispo-me do hálito podre dos dias...
Domestico os passos que me arrastam pela penumbra
Manobro a hélice heliocêntrica do meu pensamento
E dentro do meu silêncio acossado pela razão perene do escuro
Ergo os braços...toco a tecla que se desfaz em chuva...
Abraço o dorso incompreendido das árvores
E no cárcere do silêncio dispo versos...penso em passos
Acordo os ouvidos para a boca ferida do tempo
A noite desce como um caudal de minudências
Como uma refeição insaciável onde as mãos tocam na face das pétalas
E o tempo...liso...suave...implora pela luz que de desvanece numa liturgia mineral
Na luta do mar contra os areais...
Concentra-se uma solidão de barro frio
Uma pena de ave enegrecida...um discreto acenar de tempestade
E o vento beija a figura desfigurada da espera
Na espessura serôdia de um mundo que vive debaixo do chão
Sinto a paz das aves..o calor dos tumultos...a fotografia de um fogo horizontal
Aragem e verdura..séculos de mar e frio...
Lume de vozes a entoar na frágua obsessiva dos dias
E a espuma que tece rochedos escondidos na fundura das vagas
É uma linguagem de mar e sal
Uma violenta luz de água...uma nudez de memória petrificada
Uma suave carícia de sombra triunfal...