No perfume imutável do silêncio...
Na urgência de mim sinto o meu corpo rodopiar
Fecho os olhos..entrego-me ao silêncio
E sinto que posso recolher em mim todos os passos circulares do tempo
Em frente..mesmo em frente...vivem anónimas flores cobertas de piedade
Viver..fingir...ausentar-me...assim construo a minha transparência
Assim emerjo límpido e altivo de todos os pensamentos
Assim me torno um mundo solene..
Sou o deus oculto que vive na margem de mim
Lá fora..na sombra extasiada do mar...na penumbra fictícia das estradas
No destino perdido das monções...
Lá fora...perduro...como um inflexível pássaro que debica os dias
Lá fora... pendurado num distante quadro de Munch..está o meu grito
Está a minha ânsia de ruína assombrosa...cáustica..nuclear...
Uma ruína de deus impuro..descalço de si...que dança na sombra de Eros
Que conduz as suas feras de espanto pelas estradas povoadas de sussurros
Onde os meus olhos abarcam toda a frescura dos labirintos que me espreitam
No perfume imutável do silêncio...