No rio somem-se todas as gotículas de vento
Distribuímos a vida como quem inveja a distância das manhãs
Chegamos ao fim da pele..chegamos à pureza extinta das mordaças
Doem-nos os sorrisos....somos o palco incendiado da vida
Mas há sempre um outro alicerce a despertar
Há sempre uma outra areia a infundir laivos de tempo insano
Há sempre uma outra dimensão de nós a espiar as locomotivas da noite
E depois as pedras..o sangue...as árvores...e as nossas débeis penas de cotovia
Que encontram no lusco-fusco das tardes..o caminho arenoso da solidão
Mesmo querendo conhecer o segredo onde desponta a nossa crucificação
No rio somem-se todas as gotículas de vento
A atmosfera invoca relíquias de luas crucificadas pela inveja lunar dos sonhos
Há ninhos de âncoras a despertar nos mares bravios
E as fendas nas rugas do vento...
Dizem que o tempo dos homens castrados foi uma heresia salpicadas de gumes
E se os ninhos das águias se abrirem em vértices de tempo
Se os fundos dos lagos enferrujarem como os palcos das comédias
Se a morte renascer em corpos cravejados de jasmim
É porque o olhar da água soltou uma sonora gargalhada
É porque a antecipação do fim se entornou pela saliva geométrica das casas
E a penumbra é um tapume de ninhos abraçados ao mar
E nós... somos a tragédia inarticulada das estátuas vazias.