Noite e insónia
Chegamos com obscuros olhos
Rasgam-se em nós mapas e arquipélagos
Sentimos as palavras que nos alumiam
Somos medo e granito e somos segredo
Na brancura dos nossos passos dormitam sombras
Mistérios...remotas eras
A vida surge ao nosso olhar
Como a alucinação dos promontórios
Mares e tempestades assolam a nossa alma
Os pântanos são planícies feitas de prata suja
Construímos lendas a partir dos sinais que as velas ostentam
Apontamos o dedo aos martírios
E descobrimos
Que dentro da tempestade há um perfume inebriante
Sabemos que pertencer à tribo das constelações é como uma febre
Uma febre que nenhum termómetro assinala
Assim...
Há que alimentar o nosso rosto com novas paisagens
Há que caminhar pelos dedos dos alucinados
Ser a pelagem da vida
E se descobrirmos no canto dos barcos as rotas desconhecidas
É porque dentro de nós ainda vive um sonho inacabado
Um sonho que nenhum mar corroeu
Nem nenhum sal desbotou
Sabemos que cada vento trás consigo um poema
Que cada passo nos aproxima do corpo dos frutos tropicais
Sabemos que o tempo é um agitar de lutos
Surdos tempos...doces cantos
Que nos acolhem
Dentro de um xaile feito de panos antigos
Pesados como a noite e a insónia...