Num quarto povoado por sonhos
Era como um pássaro enleado em agudos horizontes
Pintava-se numa simulação
De sangue feito de jacintos amarelos
E gostava povoar os dias com nuvens de pó de arroz
No rosto nasciam-lhe orquídeas brancas
Que simulavam avenidas incompreensíveis
Espreguiçava-se indiferente aos dementes entardeceres
Gostava de enfeitar com flores a sua própria sombra
Como se fosse uma máscara latejante
Vestida de um branco imaculado
Das suas mãos saíam cidades feitas de leite
Asfaltos complicados...frescas feridas na alma
Era como uma ave povoada de corpos
Que cresciam sobre geométricas figuras crepusculares
Labirínticas penumbras periféricas adornavam a sua sombra
Onde respiravam paisagens
Feitas de homens esfaqueados pelo entardecer
Simulava...sim!
Simulava iluminações de belezas dementes
Como portos sem barcos
Latejando numa tenebrosa noite
Era a flor bordada na toalha de mesa
Que engana a fome fosforescente
Era o dançar de um bailarino esquecido
Que inventa a sua coreografia sem nexo
Até que a cidade lhe atirou flores contra os olhos fechados
E amanheceu ...sem saber como
Num quarto povoado por sonhos
Onde espantados olhavam de soslaio
A folha de papel branca e vazia
Bordada de solidão.