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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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O boneco de neve - conto de natal

À entrada de uma pequena aldeia com as ruas completamente brancas, alguém fez um boneco de neve. Tinha nariz, cachecol e gorro tudo com as cores a condizer. A fingir de olhos estavam duas lindas pedras azuis, que até pareciam que tinham vida. Tudo o que o rodeava era a típica paisagem do Natal. Era uma aldeia onde o fumo das lareiras perfumava o ar. A calma e o silêncio só eram quebrados por alguma pequena ave que procurava alimento. Se espreitássemos por uma janela de certeza que veríamos uma família feliz. Um Menino Jesus no presépio. Um árvore de natal iluminada. Uma mesa coberta de filhós e de rabanadas. Uma lareira onde um belo toro de azinho dava conforto e luz  a quem ali vivia. Afinal era Natal. Que mais se poderia desejar? Mas quando pensamos que a vida é perfeita há quase sempre algo que nos vem despertar. O boneco de neve cujos belos olhos brilhavam com se tivessem vida, de repente lembrou-se do Leonel.

O Leonel, homem que tinha feito a guerra em África. Que tinha sido emigrante em França. Vivia agora sozinho num barraco que alguém lhe emprestara. O Leonel tinha família,mas nada queria dela. E eles também tinham vergonha dele. Vergonha das condições em que ele vivia. É que depois de um desgosto de amor deixou que a tristeza tomasse conta de si e dedicou-se ao álcool. Mas o Leonel apesar das longas barbas e dos longos cabelos que ostentava, não era um vagabundo qualquer. O Leonel tinha personalidade e todos o respeitavam, mas também quase todos se afastavam dele.

Ao sentir que o Leonel não partilhava de toda a felicidade natalícia que a quadra prometia, o boneco de neve ficou triste. Quando na manhã seguinte veio o sol, começou a derreter. No chão ficaram os seus restos. O cachecol, o gorro e o nariz. Tudo com as cores a condizer. Mas o mais fantástico, é que por qualquer milagre da química, os seus belos olhos feitos de pedras azuis, tinham-se tornado escuros. Escuros como os olhos daqueles que não vêem e não sentem as dores dos que nos recantos de qualquer rua, de qualquer banco de jardim, em todos os lugares onde a tristeza manda, há homens que imitam Jesus. São os Leonéis do mundo.

 

P.S.- Este retrato é uma homenagem ao Leonel, vagabundo que foi meu amigo na adolescência e com quem muito aprendi

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