O choro é a antimatéria da alma.
Por vezes acontece-me pensar de que é que somos feitos e chego à conclusão de que não há conclusão. Somos apenas música que se evapora pelas frestas da alma. Não nos levemos a sério, há tanta coisa esquisita em que podemos pensar. Um dia reparei que nunca vi uma borboleta a cagar sobre um verso que é uma explosão de letras. Se caímos e os nossos olhos se aproximam do chão é porque o chão é um lugar bom para cairmos é como os mortos que ficam a bailar eternamente no nosso pensamento, tudo tem um lugar. Agarrar um problema é como vergar uma vela. O melhor é deixá-lo ser levado pelo vento. Verdade ou mentira tudo isso é uma espécie de sopa sem caldo, uma metamorfose de coisas que acontecem? Ou que pensamos que acontecem? Ou acontecem dentro dos nossos olhos e ficam no pensamento até que a memória estoire. E as coisas usadas? Aquelas coisas insalubres que um dia conquistaram o nosso gosto? Um dia vi o silêncio a flutuar na imensidão de um andrajo. Era um silêncio de homem que respirava pela desordem do oxigénio. Um homem com guelras, enterrado num imaculado espeto feito com sua própria alma. Ah se eu pudesse entrar dentro de um minuto e transformar-me num tigre, talvez descobrisse a insanável abstinência da razão e talvez concluísse que o choro é a antimatéria da alma.