O cianeto dos dias
Noite estrelada... abre-me o magnificente pórtico da ilusão
Deixa-me ser um solene espectador...
Deitado na rua sobre letras de cartão
Que venham as comédias e os apóstolos
Que passem por mim as justiças …
Que escrevam em letras garrafais que eu sou o injusto...
Nada...nada fará de mim um santo...
Nem a minha comédia de filantropo fugindo ao castigo
Nem o meu rosto de morto-vivo
Nem a minha rota de saltimbanco do eterno...
Nada...nada fará de mim um santo...
Já paguei...já pus e tirei a minha máscara
Já subi do abismo...já fui o inconsciente que escorraçou o Diabo...a troco de nada...
Agora...convivo com anjos e demónios...
Conheço-lhes as manhas contemplativas...
E sei que todos os demónios são anjos-demónios
Agora...deleito-me espreitando as máscaras e os vivos
Deixei de carregar o passado como se fosse um castigo
Escorracei a nostalgia... sei que há um céu apaixonado...
Que todos os dias me mostra a caveira
Que carrego como uma lembrança do cianeto dos dias
E que todas as manhãs a tenho que ressuscitar para a vida!