O desemprego da alma
Sou como um desempregado da alma
Condenado ao castigo dos sem trabalho
Cavo de sonhos como uma coisa vazia
Cansado de ardis perniciosos
E encharcado de experiências inúteis....
Os dias compulsivamente rotinados
Tornam-me as ideias vazias e irascíveis.
Por ver escrito em muitas faces
O estratagema raposino da falsídia
Municio-me de insultos impossíveis
Para responder com sanha ardente
À escória da indiferença colectiva.
Simbolizo com nojo a míngua de prazer que a vida é
E para que a minha alma não desista de mim
Invento ousadias temerosas de querer
Pois só assim a força de continuar
Não se submerge na fraqueza da derrota
E não se transforma num tumor desconhecido
Que incha de descontentamento
E faz as ideias entrarem em desarmonia
Traçando no cérebro imagens distorcidas
Que ignoram o prefácio da existência
Anunciando conjecturas indifiniveis
Para o não futuro deste homem
Carcomido pelo gorgulho dos dias.