O fim do verão
O fim do verão não chega
Para nos dizer que a viagem se faz de metáforas
Que a noite se acomoda nas teias das aranhas
E se dobra em infinitos cambiantes
E que a folhagem das urgências é um breve sinal do fim das palavras
O fim do verão traz o orvalho
A contemplação dos ritmos
E o som dos sinos lembra a secura dos desertos
E o pão repartido por breves mãos de seiva
O fim do verão cisma que as visões são imanências
Coisas abstratas...pertenças de raios oscilantes
O fim do verão acalma o cair dos sonhos
Oculta a grafia dos areais
É uma porta para as ruas e as cidades
É um poema que na raiz das flores afrouxa os seus sinais
O fim do verão traz a noite longa
A corrosão das tardes
A safira impoluta do céu
Traz também a plenitude dos rios
A cadência das imagens
O quebrar dos vazios
O fim do verão é o lugar de não ir a nenhum lugar
É o fulcro...o logaritmo da vida ..a corrosão
Percorro o fim do verão dentro de uma insónia
Quero ver o contorno da lua..o tabernáculo
E no fim do verão
Quero deslizar pela luz e pela sombra aquática dos salgueiros
Como se tivesse dentro de mim a última visão do silêncio..