O mar é largo...
Todas as lembranças dormem...todas as razões se esbatem
O vento deita-se na planície como se fosse uma fantasia de criança
Nuvens gravam-se nos olhos...vislumbres de espanto e véus nacarados
É a nudez da vida a expulsar os medos...é o vazio a encher-se de nós
Na inutilidade plena dos caminhos...voam sombras de aves...confusas sombras
Presságios de dedos tocando a flor das algas...como risos de quem é feliz
Sonâmbulas sombras de cavalos alados...Alcácer Quibir de estrelas
Oiço melodias arrancadas ao fundo da lama...palavras feitas de folhagens
Invento-me..vou de corpo em corpo...sustento-me de ritmos quebrados
De joelhos... canto...invoco todas as paisagens...
O mar é largo...o vento é forte...o vento faz adornar os pesadelos
Encolhe-se numa extinção de barco sem remos
Como se cada grão de areia...fosse um sinal de mim...
Um sinal feito de asas e braços...de brilhos imóveis...de janelas curvas
Por onde escorre a dissolvência das minhas lágrimas.