O mostruário da vida
No mostruário inicial da vida
A morte não ocupa espaço
A morte é algo impensável...
É como um corpo desconhecido que vive no nosso corpo,
Não nos preocupa...é invísivel ao pensamento...não nos afecta...
É uma coisa longínqua, que,
Na realidade nem sabemos bem se existe.
Somos jovens...felizes... imortais...
Apenas queremos viver!
Mas...um dia...sem saber como...
Repentinamente surge-nos o cavaleiro do apocalipse
E a nossa própria morte torna-se palpável.
A morte passa a viver connosco
É como um paisagem ofuscante
Determinando a meta do nosso futuro.
Questionamos a vida por causa da morte
Perguntamos ao mistério qual o significado
Mas a resposta é muda...e continuamos..
Mais uns anos e estamos decrépitos...gastos...
E para nossa surpresa deixamos de pensar na morte...
Ocultamos essa visão...
Porque sabemos que está tão próxima
Que não a queremos olhar
Estamos cansados...maçados...
E voltamos o olhar para outras paisagens.
Contemplamos então a natureza...
Com o olhar mirrado, mas cheio de luz...
Vemos as flores e as árvores
O belo porte do carvalho, o aroma do pinheiro,
Percebemos que nem sempre estiveram ali,
E que um dia também morrerão.
Percebemos como é estúpida a imortalidade,
Que a vida é uma maré sem peixe
Que a nossa rede é oca e ilusória...
Afinal o peixe somos nós...
Somos que que nos temos que pescar..
E... quando comparamos a nossa vida
com a imortalidade...
Deixamos de nos preocupar com a morte
Afinal temos a nossa janela,
De onde observamos as crianças a brincar...
Aí percebemos que tudo recomeça...
Não há imortalidade...não há vida...
Apenas existe o viver!