O peso do Universo
Era a terra das danças assentes em raízes chamejantes
Mudas como pressentimentos de chuva
Sombras sagradas cravadas no silêncio das mãos em desalinho
Torcidas como esmalte quente
O Inverno devorava o chão
Os céus comiam os olhares
Era o tempo inteiro a entrar-me no corpo
Frente a mim voavam pássaros de areia
Corcéis sonâmbulos desenhavam sonhos
Era a terra inteira suspensa num segundo
Como a vida...ou um fio de seda
Segui embalado por um galope de guerras sem nome
Nuvens tatuadas...pesos sem consciência
Todos os livros se calaram
Todas as cores se esbateram
A temperatura da vida transformou-se em prata
Oxigénio tombado sobre um soalho escorregadio
Canto de aranhas tecedeiras...embalo lunar
Na ausência do corpo havia um eterno universo
Uma voz descia suavemente pela neblina
E as folhas atravessavam as ruas...a galope
Como se estivessem numa praia sonhada
Não havia realidade nem aves coloridas
Passavam anjos trôpegos...insatisfeitos
Caídos de um céu asfaltado
Como um recanto enlouquecido da alma.
Mansas mulheres desfiam livros inteiros
Pesam o universo...curam os rasgões dos dias
Pedem harmonias que nem sabem explicar
Tantas e tão vastas como todas as palavras
Como todas as inundações do silêncio
Como todos os anjos ausentes...imortais!