O peso dos beijos
Piso irrespiráveis espaços
Ardendo por dentro das palavras
Volume vazio de dias
Oferecidos aos corpos angustiados
Existir é saber que todos os sonhos
São caminhos feitos de paisagens ilusórias
Que toda a felicidade é uma amante
Procurando a imperfeição das tardes,
Caminho na direcção
De um sonho vazio construido com ventos
Guardo esse sonho
No canto de uma vaga gaveta
Onde a sombra o faz brilhar.
Olho para as ruas na hora de ponta
Vejo diluir-se a incerteza nos relógios
Cada um ensaia um passo de ballet
Cada um é pintura de falsa de Degas
E as horas de ponta são o seu palco.
Olhos hirtos..passos suaves
Sombrias poses coladas a uma dança etérea
Amas os dias em que os lábios se esforçam
Por encher a luz de palavras
Amas os dias em que és a própria luz
Que emana dos teus lábio
Lábios de marés...saibro de espinhos
Alguma vez soubeste
Que uma lívida flor espreita
Por entre o caule da primavera?
E que da plena suspensão do pensamento
Nascem geometrias agitadas?
Ou que o peso dos beijos
Tem o encanto das pedras?
Sim...tu sabes que o escuro
É um fino ébano a agitar ilusões
Uma pequena brincadeira de cabra-cega
Que tu consomes nas noites de luar
Como se assistisses um enorme parto
De estrelas...