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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O Pregão do Silêncio - livro sétimo

O Pregão do Silêncio 2.jpg

Há tão poucas coisas a dizer

há tanto fim e tanto céu

que na obscuridade do infinito

se esconde o fim e o princípio de nós

 


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Tenho silêncios que me envolvem

Tenho um cais e um barco e uma flauta

Tenho uma roda de estrelas mortas à nascença

E uma seara de dúvidas azuis

Despontando nos meus olhos de criança.

 

Troquei a verdade pelo poente

E a morte por uma borboleta verde

Troquei de estrada e fiz uma escultura

Troquei a lonjura da escuridão

Por um fio do teu cabelo.

 

Tenho na boca um sabor a metal

Tenho um laço negro e um avião de papel

Da minha boca caem tranças

Das minhas dúvidas nascem tempestades

E as estrelas choram com pena do meu silêncio.

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Pergunto-me

Se em mim nascesse a vontade

De não ser mais que um pequeno e minúsculo silêncio

Se do meu corpo jorrassem constelações

De velhas lendas sem sentido

E eu acreditasse que a vida é feita

De impassíveis pedras astrais

Então...

Eu viveria como se tivesse um mar dentro dos meus olhos

E talvez até fosse capaz de dizer

Como é que os rios talham esfinges no granito

Que dorme nas faldas das serras

Seria como se dentro de cada rocha

Me esperasse a eternidade

Mas a eternidade que procuro vive numa outra idade

Vive numa outra arquitectura de tempo

Poia agora sei...que essa eternidade

Está nos teus olhos feitos de água doce

Está na tua pele e na tua ausência.

 

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Línguas de fogo

Há dias em que as palavras são línguas de fogo. Há dias em que as palavras são artefactos mudos. E há ainda outros dias em que as palavras são novelos. São náufragos. São cadáveres embuçados com cicatrizes na face. As palavras têm uma crueldade própria. Uma solidão vazia. Um ácido corrosivo. Um cheiro a vinho. Um refinamento potássico. Umas vezes são impulsos da alma. São véus e são pequenos pulgões de tédio. As palavras acendem-se. Deitam fumo como as chaminés. Queixam-se. São gueixas calçando okobos apertados. São tímidas. Alegres. Floridas. São estrepitosas agulhas. Sentem. Sofrem. São sebes e são almas. Personagens de Dante. E vivem...na exaustão das pessoas.

Texto do livro Silêncios de papel publicado em setembro 2022

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Não sei de onde vem o mar

Mas todos os dias o espero

Como se eu fosse a praia onde ele vai desaguar

 

Não sei de onde vem o dia

Mas entre a espuma e o ouro das manhãs

Lá estou eu....desperto...

Como quem acorda dentro de um milagre.

 

Não sei mesmo de onde venho

Mas a casa branca onde habito

Tem por tecto a fantasia de um selvático céu.

(Poema 66 do livro Na brecha dos dias)

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Sorris ... num sonho luminoso e longínquo

Como se fosses um longo encanto que me iluminou as trevas

Onde eu permanecia....como um gigante... que bebia a tua luz

Era um sonho feito de uma noite húmida...derradeira

Nascida de um verão feroz e profundo...como uma censura

Bebi desse cálice de onde despontava timidamente a tua natureza

E... foi um encanto...o ar da noite...uma aventura

Uma volúpia feérica...um corpo de marfim...uma fundura...

Onde me despi...nos exílios profundos da ternura.

(Poema do livro Chão de palavras publicado em 2021)

 

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Não sei que pétalas se escondem por detrás da imensidão do tempo

Mas o frio da distância...esse sublimado estar por detrás das palavras

Esse leme que nos conduz às memórias de serranias e de ventos

Esse sermos nós...feitos da alma da terra...é o que nos aquece

É o que vela pela nossa pulsação

É o que circula por dentro da lonjura caiada das casas onde nascemos

Como um artefacto feito do sangue intacto dos nossos avós...

(Excerto deste livro publicado em 2020)

P.S. - escrevo sob pseudónimo

 

 

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